Um dia, eu segurei duas mãos.
Pequenina, firme, entre eles dois —
meu mundo inteiro em carne e osso,
minha fortaleza de amor.
Na direita, o calor suave da mãe.
Era cedo demais
quando ela precisou soltar.
Não por querer,
mas porque a vida levou.
Continuei caminhando,
ainda amparada pela mão esquerda,
forte como tronco de árvore.
Meu pai —
meu chão depois da ausência dela.
Até que, anos depois,
ele também precisou ir.
E soltou a minha mão com cuidado,
como quem diz:
“Agora é com você.”
Hoje caminho sozinha,
mas ainda sinto as duas mãos.
Não nas minhas —
mas dentro do peito.
E são elas que me empurram pra frente
nos dias em que quase esqueço como andar.