Inicio / Poemas / Textos Autorais · abril 14, 2025

Amar em movimento

Nos bancos de couro gasto pelo tempo e pelo uso,
Teu braço firme ao meu lado era abrigo silencioso.
O motor vibrava baixinho, como um coração compassado,
E eu, nos meus sonhos leves, flutuava despreocupada.

Lembro do vento que invadia a janela entreaberta,
Levando consigo o cheiro de mato, de chuva incerta.
Passávamos por planícies douradas, onde o sol se estendia,
E por vales úmidos, onde a neblina tudo cobria.

Em Minas, paramos num restaurante à beira da estrada,
O cheiro do pão de queijo fresco, a prosa animada.
Rimos alto ao provar café forte, quase queimando a língua,
Enquanto o céu se tingia de laranja, anunciando a próxima vinda.

São Paulo surgiu imensa, mas era só fundo de cena,
Pois no rádio tocava nossa canção, tua voz suave, serena;
Dormimos num posto 24 horas, o carro virou ninho,
E eu, aninhada em teus braços, sonhei o nosso caminho.

Seguindo rumo ao sul, cruzamos matas de araucárias,
O frio apertava, mas teu sorriso aquecia minhas raras
Preocupações — bastava o teu olhar confiante,
Para eu saber que estávamos seguros, avante.

Chegávamos a cidades pequenas, onde ninguém nos conhecia,
E encontrávamos abrigo em pousadas que pareciam
Feitas sob medida para nossas aventuras.
Em cada mural de azulejos, deixávamos nossas figuras.

Por fim, Maringá floresceu sob nossos passos apaixonados,
Praças coloridas, olhares cúmplices, corações enlaçados;
Mas o que ficou, meu amor, não foi só a rota traçada,
Foi a poesia do teu riso, a estrada eternizada.

Hoje, cada quilômetro percorrido ainda ecoa em mim,
O estalar dos pneus na pista, o fim do fim.
Mas guardo cada detalhe: a brisa, o riso, a viagem,
E sinto falta do carro transformado em paisagem.